segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Evitar o inevitável.

Talvez eu tenha que pedir desculpa a mim mesma por ter sucumbido. Por ter sido covarde. Por não ter dito todas as coisas que precisava dizer antes de ouvir que ele encontrou uma pessoa que supria todas as suas necessidades de carinho. Foi ele mesmo quem me disse isso, com aquele eufemismo conhecido de quem não tem coragem de dizer que se apaixonou por outra pessoa. Eu ri, pois éramos somente amigos e ele não precisava me dar explicações. Eu ri, uma vez que estava triste demais para chorar. Eu ri, mas depois não consegui e chorei.

Ninguém sabia, ninguém nem poderia saber. Algumas vezes a verdade traz dores que podem ser evitadas com a omissão. Eu tinha mesmo era vontade de abraça-lo e vê-lo dormindo em meu peito; contar a minha vida, ouvir sobre a dele; transar sentindo seu cheiro de macho que me inebria desde a primeira vez em que nos abraçamos. E a única coisa que conseguia fazer era sorrir e encorajá-lo a buscar a felicidade. Não sei se foi o certo, mas com certeza foi o melhor a se fazer. Talvez isso seja o verdadeiro amor.

Em uma de nossas viagens furadas em nome da amizade, dormimos na casa de um punk sujo. "Tem um colchão de casal pra você e sua mina", disse nosso anfitrião. Ele me olhou, sorriu constrangido e respondeu "ela não é minha mina, é como se fosse minha irmã". I-r-m-ã. Ele dormiu ao meu lado e eu provei o sentimento de vazio mais desesperador que já senti. Um nó na garganta, uma queimação no peito e pés e mãos dormentes. Eu o admirava com um olhar amplo; sentia-me confusa, perdida e, não sei se posso assim dizer, lassa. Ali fiquei eu, merecendo uma medalha por evitar o inevitável. E ele nem sabia que eu ficaria naquele lugar nojento o resto da minha vida, se fosse ao lado dele.

Tomei uns drinks e tive vontade de espancá-lo. Dizem que é isso que a bebida faz com a gente, não é mesmo? Dá coragem de fazer o que não ousamos nem pensar quando estamos sãos. Queria chutar, morder, tirar sangue do seu nariz - tão bonitinho, diga-se de passagem. Fazê-lo sentir por alguns minutos o que eu sentia por anos, todas as vezes que fracassava ao seu lado. Fiquei nervosa, irritada, louca. Tudo que pra ele não era nenhuma novidade, já que estava acostumado a lidar com isso de mim todos os dias. Seu jeito de fazer uma contenção corporal ou mesmo monossilábica. De arrancar precisamente, nem sempre de forma delicada, todas as minhas insanidades.

Não segui nenhum conselho que me deram a seu respeito. Nem de terapeuta, nem de amiga que era contra, nem de amiga que era a favor. Eu tenho um jeito todo especial de lidar com a dor. Fecho os olhos, fico esperando passar. Não emito nenhum ruído. Fico quieta, juntando todas as minhas forças pra tentar fazer o tempo correr logo. Qualquer movimento que eu faça desperdiça energia e tudo fica mais difícil. Se eu falar sobre o assunto, quer dizer que ele não me machuca tanto assim.

Anos depois aconteceu em um dia comum. Deveras não havia nada de especial: nem roupa, nem cabelo, nem perfume. Simplesmente conversamos e decidimos que seria interessante "dormir" juntos. Eu tremia inteira e estava fedendo a cigarro. Ele só me beijou depois que tirou minha blusa. Meu corpo estava naquela cama, mas minha alma só conseguia me condenar pela grande irresponsabilidade que eu fazia comigo mesma. Para ele, nada daquilo era um grande acontecimento. Acabou, me vesti e fingi desprendimento, iniciando uma espécie de encenação medíocre, para não dizer patética. A linha tênue entre estar infinitamente feliz e saber que vai se ferrar por isso. O que vale a pena?

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