Eu recém terminara um relacionamento complicado.
Pra falar a verdade, ele tomou a iniciativa de acabar, embora eu o quisesse
fazer há muito tempo. Tenho esse defeito, não termino relacionamentos por mais
infeliz que eu esteja. Meu ex fazia o estilo desses namorados babacas que te xingam
por nada. Talvez tenha sido por isso que eu não sofri com o nosso rompimento. Na
realidade, chorei um dia. Não foi um choro por perdê-lo e sim pesar por eu ter
ficado com ele tanto tempo. Chorei por mim.
Enfim, meu telefone tocou e eu não fazia
ideia de quem fosse. Atendi semiembriagada:
- Alô
- Oi, Heleninha? Aqui é o Bruno Aleixo
- Oi Bruno, tudo bem? Como conseguiu meu
telefone?
- Ah, consegui... Te liguei pra perguntar
uma coisa, qual seu nome completo?
- Heleninha Roitman, porque quer saber
isso?
- Só pra saber como ele vai ficar depois
que nos casarmos
- Cê tá de brincadeira comigo, né? Olha,
tenho que desligar, depois falamos.
Não era a atitude mais prudente falar
com ele alcoolizada. Além de que, ele só podia estar brincando. Bruno Aleixo
era um latino-americano lindo, desses todo jeitoso. Um rosto desenhado, pele de
pêssego, muito engraçado, realmente apaixonante. É, não poderia ser verdade. Mas
era. Depois desse dia, engatamos um romance e tornamo-nos fiéis assíduos de
alguns hotéis baratos da cidade. Nunca nos cobramos nada, só era legal o tempo
que passávamos juntos. Ele me chamava de Bruxa e eu o chamava de Bruno Aleixo.
Eu gostava, embora soubesse que seria
passageiro. Bruno Aleixo é do tipo nômade. Não se prende a lugar nenhum, fica
seis meses numa cidade e vai pra outra. Não consegue ter raízes, não sabe criar
vínculo com ninguém. Alguns meses depois, no dia do meu aniversário, ele foi
embora. Na despedida ele me abraçou e depois disse: "eu te amo, queria que você
ficasse comigo, mas não posso, você é louca. Vou te dar quatro conselhos antes
de ir: procura uma igreja; tira esses piercings; para de fingir que é forte e
seja forte de verdade; e por último, me esqueça, porque eu vou te esquecer em
um mês". Nem respondi. Quando ele terminou de dizer essas coisas, virei as costas, entrei no
carro e fui embora. Também não sofri com o nosso rompimento. Na realidade, também
chorei um dia. Também chorei por mim. Por mim, sem ele.
Toda vez que ele muda de cidade, me
manda uma mensagem. Sei que é ele pelo jeito de escrever (sempre em CAPS LOCK),
mas o DDD é sempre outro. 067, 066, 041, 018. Algumas vezes eu respondo, outras
não, depende muito do meu humor. O que mais me irrita é ele saber da minha
vida: sabe quando estou namorando, quando estou solteira, quando mudo de casa e etc.
Amo stalkear as pessoas, mas não gosto quando fazem o mesmo comigo. Mesmo porque,
nunca dei stalk nele.
Antes de ontem ele reapareceu, com um
DDD novo: "NÃO TÁ MAIS NAMORANDO?". Não respondi. Ontem ele ligou, vi o DDD,
sabia quem era, mesmo assim resolvi atender:
- Oi
- Oi Bruxa, não me responde mais?
- Não, só respondo quando tenho algo a
dizer e a gente não tem nada pra dizer um pro outro.
- Uhhhhhh! mal criada como sempre! Tô
sabendo que você perdeu o emprego...
- Não perdi, pedi pra sair.
- Mesmo assim, está sem emprego. Vai fazer
o que agora? Vai logo arrumar outra coisa, guria! Fez faculdade só pra dizer
que fez?
- Hey, cala a boca! Você não sabe nada da
minha vida, se liga!
- Sei o suficiente pra saber que você está
brava agora. Fala baixo e tira essa mão da cintura, galinho de briga.
- Aff, vou desligar, não quero falar mais
com você. Não tenho o que falar. Você disse que me esqueceria em um mês e não
cumpriu com a promessa.
- Eu sei, não consegui esquecer. Precisa de
dinheiro?
- Que?
- Tá precisando de dinheiro? Quer que eu
te mande alguma coisa?
- Claro que não, Bruno!
- Tudo bem, pode desligar agora. Esse é o
meu telefone novo, me liga se precisar de grana.
- Não vou ligar e acho legal da sua parte
se não me ligar mais também.
- Tudo bem, não vou ligar. Quando eu mudar
de número outra vez te mando uma mensagem. Tchau.
Duração da chamada 1 minuto e 37
segundos. Encerra com a chamada meu vínculo com ele. Não atendo mais DDDs desconhecidos.
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